terça-feira, 12 de setembro de 2017

O Pequeno Apicultor





Lá na década de 60, ao ler o Pequeno Príncipe deparei-me com o desenho de um carneirinho preso numa caixinha. Sorri: tinha algo em comum com o principezinho, e meu pai com Exuperi.

Uma caixinha de fósforo, entalhada a faca, uma jaula, dentro dela um zangão que, fora dela ele se alimentava com a partida e eu ficava sem o seu zumzum. Acho que ele sempre partiu.


sábado, 29 de agosto de 2015

Naturalismo Dialético e Histórico - Apicultor



Concretude naturalmente
naturalidade tão natural.

São tantos e tão naturais os acontecimentos que se atrelam existência das abelhas, numa inter-relação harmoniosa, desenvolvida no convívio interno a colmeia como fora dela, e neste com vários seres vivos, animais e vegetais.

A beleza do acaso no momento que envolve o “voo nupcial”,quando acontece o acasalamento no ar da abelha rainha com um zangão. Se tudo certo, rainha fecundada para toda sua existência, numa média de mil ovos diários, por cinco anos. Para o zangão, merecedor do prêmio, disputado com outros, incentivados pelo desejo da paixão, o abraço e o beijo da rainha, seguidos pela morte.

O voo nupcial acontece em dias quentes, ensolarados, próximo de meio dia: uma agitação visual e barulhenta causada por muitas abelhas voando rápido, acima da colmeia, em longos zigue-zagues, zangões de outras colmeias participam também da disputa pelo beijo da rainha. Este fato justifica a africanização de todo apiário americano; a partir da fuga de um único enxame africano, em Piracicaba-SP, América do Sul, década de 1950.
Fatos como estes contribuem para compreensão da vida. Além de darem um diferencial ao significado para o silêncio, luz e suas cores.

Caprichos do gênio da natureza? ninguém sabe de nada e todos sabem de tudo no momento exato. Vale para qualquer um. Como no caso, acontece uma única vez na vida de qualquer abelha rainha, de qualquer colmeia em qualquer parte do mundo e por cem milhões de anos.

Não menos importante, a fecundação de uma flor que depende do pólen de outra flor, situada em algum lugar e posição que só não é impossível acontecer, devido a coleta do pólen e do néctar pela abelhinha que trabalha de flor em flor, sem nenhum outro interesse; néctar, pólen.

Não há razão para saber se a natureza tem um gênio ou se ela é o gênio. Cada qual é ela, se ela está em cada um, entre todo universo de coisas concretas que ela também é. Querer ir além é imaginar, pensar, idealizar além da natureza.

domingo, 24 de abril de 2011

IRA 5,5-6

Enquanto a memória não falha.
Alguém comentou em tom poético do carinho por uma abelha que costuma visitar seu quintal, todos os anos, nas manhãs ensolaradas no mês de junho.  Este relacionamento começou no ano que se produziu doce na casa.
O intervalo de um ano entre visitas, corresponde aproximadamente a catorze gerações de abelhas.
Neste costume anual, a curiosidade de como é transmitida  esta memória, para que este evento continue acontecendo sempre na mesma época.
Pode-se imaginar para esta continuidade a esperança de reviver a primeira. Mês de junho é inverno, não existe flor e enxame sem reservas alimentares, sofre.
Pode também ser por razão totalmente alheia a este argumento.
Quanto às catorze gerações: A abelha vive cinqüenta dias, ou um ou dois dias a mais, ou a menos, só a metade de suas vidas é dedicado as tarefas campeiras, fora da colméia, percorrem bosque, campos, plantações, pomares, quintais, buscando abastecer-se com forragem.

Enquanto a memória não falha.
Uma ilustração alusiva a Georgicas de Virgilio, aborda o acomodamento de um enxame em trânsito, por meio de muito barulho.
Dias atrás, a aproximadamente setecentos e trinta mil dias ou dois mil anos,
 deste dia para os dias de Virgílio,  forçou-se com êxito a acomodação de um enxame que voava em trânsito, tal qual a descrição na Georgica.
A abelha-rainha vive aproximadamente cinco anos, considerando a vida de uma abelha-rainha e o tempo de Virgilio a este acontecimento: quatrocentas abelhas-rainhavintre e nove mil e duzentas gerações de abelhas.

Coisas na vida.
Sempre foi assim, abelhas aventurando-se pelo espaço, campos e tantas outras plagas, percorrendo qualquer lugar em busca de forragem, de mantimentos, que é garantia para a continuidade da vida para a sua sociedade, que vive nas trevas, interior da colméia.
As abelhas de uma colméia são algo em torno de sessenta mil, a cada dia entre mil e mil e quinhentas novas abelhas, mas só a metade destas, aproximadamente trinta mil, é que podemos ver pelos campos e quintais, situação normal para a vida de uma colméia, principalmente na primavera e verão.
As abelhas são conhecidas como operárias, a saírem a camperiar, percorrendo o ambiente são também conhecidas por campeiras e forrageadeiras.
Quando encontram algum mantimento, levam a carga e informações de quantidade e localização para a colméia.
O retorno ao local é seguido por mais campeiras, elas não voam em grupos, sempre com intervalo de alguns poucos segundos entre uma e outra.
A forragem pode ser, néctar, pólen,resina vegetal, mel, cera, água, xarope ou calda de frutos maduros, ou de doces fabricados.

Enquanto a memória não falha.
Nação de virgens, república das trevas.
A colméia, nação de virgens, uma sociedade articulada que vive nas trevas, se organiza em coletivo na produção de uma riqueza, que um dia é transferida para uma nova colméia, uma nova geração, em troca de uma vida de carências, de um futuro incerto, de um pobre recomeço.

As abelhas e abelha-rainha que formam um enxame a produzir uma nova colméia, quando se separam da colméia, só tem o direito de levar consigo, mel no abdômen de suas obreiras, se não houver fartura, não haverá razão para enxamear, salvo por motivo de alguma doença que possa afetar o comportamento da colméia, uma anomalia.

Esta riqueza produzida pela colméia, abrigo, mel, cera, resulta do relacionamento natural do coletivo com uma parte significativa do universo vegetal, formada pelas plantas de flores angiospermas. A flor fornece o pólen e o néctar, em troca dos frutos, das sementes.

Riqueza maior cabe exclusivamente a natureza, num manifesto em favor da própria natureza, que está no viver e viver a renovação da vida para tantos seres, entre eles o próprio homem, além das abelhas e dos vegetais que diretamente a ela se elencam.

Esta atividade acontece imutavelmente há 100 milhões de anos.

Momento e eternidade
A colméia é uma cidade que nunca para, vive sempre no escuro, seja noite ou dia, tudo se contempla numa ordem que vai desde a postura do ovo, sua eclosão em larva e para pupa, até o despertar de uma nova abelha, nova mas adulta e tarefas sociais a praticar, assim até a sua morte como uma velha abelha, tendo a cada um dos momentos da sua vida, marcados por uma determinada função, tarefa

Para cada operária a dinâmica de assumir momento a momento uma função na comunidade.

Para a colméia o rodízio entre as abelhas marcados pela dinâmica entre seus momentos é um único momento a produzir a vida de todas as colméias.

Momentos
Entre as atribuições determinadas a serem desenvolvidas por uma abelha ao longo de sua vida está: ser faxineira, ama, aia, dama de honra, segurança, cereira, ventiladora, química, construtora, anfitriã de campeira, sentinela, campeira.

E o homem
A espécie humana, a que pertencemos, Homo Sapiens, registra-se a menos de duzentos mil anos de vida, na proporção de um ano de vida do homem, para quinhentos anos de vida da abelha; 1/500.  
Só que o relacionamento da vida humana com a natureza se qualifica pela degradação ambiental, numa progressão alarmante, a luz da sua própria consciência de que se é natureza, na plenitude do conhecimento de uma vida suicida, envolta na imoralidade de argumentos: interesse público; estabelecimento da ordem; legítima defesa.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

YRA 4-6


Ubá é amarelo, assim yrauba é uma abelha dourada.
Os sentidos da abelha são muito desenvolvidos: visão, olfato e paladar. Outra característica admirável é o de organizar-se em sociedade, de tal sorte que a cada indivíduo de acordo com a sua natureza, zangão, abelha ou rainha, bem como a idade que tiver, terá uma tarefa, específica, para cumprir. É fascinante conhecer a coleta do néctar, a polinização que é a fertilização dos vegetais através das flores, a colheita e transporte do pólen, a produção do mel e da cera, a construção geométrica dos favos com orientação segura para a armazenagem do mel, e se a família correr algum risco de agressão, parte para a defesa numa missão suicida, sem volta. Nesta magia, mais a utilização da cera e do mel como alimento e remédio, o homem se atrela a abelha desde a pré-história.
A Espanha documenta pinturas rupestres com mais de 7000 anos. No código da Hamurabi, o mais antigo conjunto de leis que se conhece, datado em 2000 a.C. na época da hegemonia babilônica sobre a Mesopotâmia. Em lei também esta presente na antiga Grécia onde mereceu até ser esculpida em jóia 2500 anos a.C.. E assim, em vários momentos da nossa história, em vários lugares da terra, a abelhinha marca a presença.

YRA 3-6




Yrapy deve ter sido a primeira abelha.
O sul do continente africano é reconhecido como o berço da humanidade e do conhecimento.
Existem lá vários sítios com fósseis de “homídeos”. O fóssil conhecido como “Mrs Ples” é um dos mais importantes, um esqueleto quase completo, com idade aproximada de 2,5 milhões de anos.
Foi em algum lugar destas terras que o povo San escolheu a sua terra e construiu o seu lugar, onde viveu por mais de 4 mil anos. Deixando ali, de sua autoria, inúmeras pinturas rupestres, tão presentes, tão admiradas. Este povo, (indígena?), ainda sobrevive em meio a selvagem ganância do homem, (civilizado?). Atualmente habita no deserto de Kalahari, convivendo com a ameaça da expulsão.
Um povo com mais de 4 mil anos de existência, transcende boa parte ou quase a totalidade, de toda historia do homem que temos registro, renovada diversas vezes.
Na história da criação do povo San, uma abelha carrega um louva-a-deus por um rio. O rio é extenso e a abelha exausta acaba deixando o louva-a-deus em uma flor que estava boiando na água. A abelha planta uma semente no corpo do louva-a-deus antes de morrer e a semente se transforma no primeiro ser humano.

YRA 2-6


Irai-RS, cidade gaúcha, é estância hidromineral, lá existem fontes de águas quentes. Curiosamente irai quer dizer mel de água, “i” é água para o tupy e “ci” é a mãe! quando se fala iraci vale lembrar que toda abelha tem mãe. Irai é a terra natal da “Neta” a "Netinha", guria sapeca, que é mãe, avó. Minha abelha-rainha.
Irai região serrana, de matas de mate com mato florido produzindo néctar para um mel muito especial, o mel silvestre do Irai é "irai", um mel de textura muito fina, aroma e sabor suaves, muito característico e como todos os outros, nobre. Mel para se colher no final da primavera.
A minha relação com a apicultura iniciou em 1951, quando nasci e meu pai começou, neste ano, acho que sem saber, um pequeno apiário no quintal, era só uma caixa com abelhas, lá em Tupanciretã-RS. Em1969 a família mudou-se para São Paulo e então vendeu o apiário com 200 colméias, para um amigo, Bruno Shirme, creio que mais de 90% africanizadas e com as quais, naquele quintal a 100 metros da matriz da cidade, se manteve um convívio britânico, seguro e responsável.
Quatro décadas longe do apiário.
Algumas recordações, histórias lincadas a experiência da vida criança e adolescente, mas com muito feromona. Pode ser irônico, mas talvez pela quantidade de mel consumida, ferroadas colecionadas, horas manipulando produtos e equipamentos, ou até a falta de um bom banho, seja a razão para eu ser identificado por abelhas, nos mais diferentes lugares por onde tenho andado.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

YRA 1-6



Yra é abelha para o tupy. Olhar para uma abelha é o que basta para aprender e respeitar a natureza. Ela só tem cinquenta dias para viver e já vive a 100 milhões de anos. Simplesmente no seu viver, vive a colméia, vive o vegetal e vivem tantos outros seres, pelo mel e outros derivados da abelha, pelo vegetal e seus produtos. Isto é inter-relacionamento, é sustentabilidade. Poderiamos, quem sabe fazer muito mais do que elas, afinal, acho que somos maiores...

domingo, 29 de julho de 2007

Economia Solidária Pela Prática da Agricultura: Urbana, de Subsistência, Familiar e Solidária.

Esta agricultura deve exercer um papel vital na realização de economias contribuindo para o alcance da sociedade sustentável. É uma produção local, sem consumir energia, que elimina a dependência de importação de produtos desde regiões vizinhas; uma contribuição para o balanço de carbono, e ao aumento da biodiversidade; é alimento, combate a fome, a desnutrição; favorece o interpretar da naturaza, contribui para o aprimoramento das relações da vida humana e o ambiente.
Uma possibilidade para exercitar a solidariedade, na prática da plantação, colheita e consumo; família, vizinhos e comunidade, na divulgação do conhecimento incentivando à produção e no intercâmbio solidário de uma produção coletiva.
E é só interjeições, espantos, emoções: “saber que não é produzido na gôndola geladeira do supermercado, no caminhão do feirante, que não precisou de defensivo químico, combustível, estrada, avião ou caminhão e muito plástico, para produzir, embalar, conservar, transportar e comercializar”. Este custo total necessário, da produção a comercialização final, é economia construída por esta atividade, ganho solidário, recursos que podem atender a outras necessidades sociais.
Agricultura solidária está na produção caseira, na divulgação e intercâmbio de técnicas, nas trocas, no pensamento que busca ser mais.