Enquanto a memória não falha.
Alguém
comentou em tom poético do carinho por uma abelha que costuma visitar seu
quintal, todos os anos, nas manhãs ensolaradas no mês de junho. Este relacionamento começou no ano que se
produziu doce na casa.
O intervalo
de um ano entre visitas, corresponde aproximadamente a catorze gerações de
abelhas.
Neste
costume anual, a curiosidade de como é transmitida esta memória, para que este evento continue
acontecendo sempre na mesma época.
Pode-se
imaginar para esta continuidade a esperança de reviver a primeira. Mês de junho
é inverno, não existe flor e enxame sem reservas alimentares, sofre.
Pode também
ser por razão totalmente alheia a este argumento.
Quanto às catorze
gerações: A abelha vive cinqüenta dias, ou um ou dois dias a mais, ou a menos,
só a metade de suas vidas é dedicado as tarefas campeiras, fora da colméia,
percorrem bosque, campos, plantações, pomares, quintais, buscando abastecer-se
com forragem.
Enquanto a memória não falha.
Uma
ilustração alusiva a Georgicas de Virgilio, aborda o acomodamento de um enxame
em trânsito, por meio de muito barulho.
Dias atrás,
a aproximadamente setecentos e trinta mil dias ou dois mil anos,
deste dia para os dias de Virgílio, forçou-se com êxito a acomodação de um enxame
que voava em trânsito, tal qual a descrição na Georgica.
A
abelha-rainha vive aproximadamente cinco anos, considerando a vida de uma
abelha-rainha e o tempo de Virgilio a este acontecimento: quatrocentas
abelhas-rainhavintre e nove mil e duzentas gerações de abelhas.
Coisas na vida.
Sempre foi
assim, abelhas aventurando-se pelo espaço, campos e tantas outras plagas,
percorrendo qualquer lugar em busca de forragem, de mantimentos, que é garantia
para a continuidade da vida para a sua sociedade, que vive nas trevas, interior
da colméia.
As abelhas
de uma colméia são algo em torno de sessenta mil, a cada dia entre mil e mil e
quinhentas novas abelhas, mas só a metade destas, aproximadamente trinta mil, é
que podemos ver pelos campos e quintais, situação normal para a vida de uma colméia,
principalmente na primavera e verão.
As abelhas
são conhecidas como operárias, a saírem a camperiar, percorrendo o ambiente são
também conhecidas por campeiras e forrageadeiras.
Quando
encontram algum mantimento, levam a carga e informações de quantidade e
localização para a colméia.
O retorno
ao local é seguido por mais campeiras, elas não voam em grupos, sempre com
intervalo de alguns poucos segundos entre uma e outra.
A forragem
pode ser, néctar, pólen,resina vegetal, mel, cera, água, xarope ou calda de
frutos maduros, ou de doces fabricados.
Enquanto a memória não falha.
Nação de virgens, república das
trevas.
A colméia, nação
de virgens, uma sociedade articulada que vive nas trevas, se organiza em
coletivo na produção de uma riqueza, que um dia é transferida para uma nova
colméia, uma nova geração, em troca de uma vida de carências, de um futuro
incerto, de um pobre recomeço.
As abelhas
e abelha-rainha que formam um enxame a produzir uma nova colméia, quando se
separam da colméia, só tem o direito de levar consigo, mel no abdômen de suas
obreiras, se não houver fartura, não haverá razão para enxamear, salvo por
motivo de alguma doença que possa afetar o comportamento da colméia, uma
anomalia.
Esta
riqueza produzida pela colméia, abrigo, mel, cera, resulta do relacionamento
natural do coletivo com uma parte significativa do universo vegetal, formada
pelas plantas de flores angiospermas. A flor fornece o pólen e o néctar, em
troca dos frutos, das sementes.
Riqueza
maior cabe exclusivamente a natureza, num manifesto em favor da própria
natureza, que está no viver e viver a renovação da vida para tantos seres, entre
eles o próprio homem, além das abelhas e dos vegetais que diretamente a ela se elencam.
Esta
atividade acontece imutavelmente há 100 milhões de anos.
Momento e eternidade
A colméia é
uma cidade que nunca para, vive sempre no escuro, seja noite ou dia, tudo se
contempla numa ordem que vai desde a postura do ovo, sua eclosão em larva e
para pupa, até o despertar de uma nova abelha, nova mas adulta e tarefas
sociais a praticar, assim até a sua morte como uma velha abelha, tendo a cada
um dos momentos da sua vida, marcados por uma determinada função, tarefa
Para cada
operária a dinâmica de assumir momento a momento uma função na comunidade.
Para a
colméia o rodízio entre as abelhas marcados pela dinâmica entre seus momentos é
um único momento a produzir a vida de todas as colméias.
Momentos
Entre as
atribuições determinadas a serem desenvolvidas por uma abelha ao longo de sua
vida está: ser faxineira, ama, aia, dama de honra, segurança, cereira,
ventiladora, química, construtora, anfitriã de campeira, sentinela, campeira.
E o homem
A espécie
humana, a que pertencemos, Homo Sapiens, registra-se a menos de duzentos mil
anos de vida, na proporção de um ano de vida do homem, para quinhentos anos de
vida da abelha; 1/500.
Só que o
relacionamento da vida humana com a natureza se qualifica pela degradação
ambiental, numa progressão alarmante, a luz da sua própria consciência de que
se é natureza, na plenitude do conhecimento de uma vida suicida, envolta na
imoralidade de argumentos: interesse público; estabelecimento da ordem;
legítima defesa.