domingo, 24 de abril de 2011

IRA 5,5-6

Enquanto a memória não falha.
Alguém comentou em tom poético do carinho por uma abelha que costuma visitar seu quintal, todos os anos, nas manhãs ensolaradas no mês de junho.  Este relacionamento começou no ano que se produziu doce na casa.
O intervalo de um ano entre visitas, corresponde aproximadamente a catorze gerações de abelhas.
Neste costume anual, a curiosidade de como é transmitida  esta memória, para que este evento continue acontecendo sempre na mesma época.
Pode-se imaginar para esta continuidade a esperança de reviver a primeira. Mês de junho é inverno, não existe flor e enxame sem reservas alimentares, sofre.
Pode também ser por razão totalmente alheia a este argumento.
Quanto às catorze gerações: A abelha vive cinqüenta dias, ou um ou dois dias a mais, ou a menos, só a metade de suas vidas é dedicado as tarefas campeiras, fora da colméia, percorrem bosque, campos, plantações, pomares, quintais, buscando abastecer-se com forragem.

Enquanto a memória não falha.
Uma ilustração alusiva a Georgicas de Virgilio, aborda o acomodamento de um enxame em trânsito, por meio de muito barulho.
Dias atrás, a aproximadamente setecentos e trinta mil dias ou dois mil anos,
 deste dia para os dias de Virgílio,  forçou-se com êxito a acomodação de um enxame que voava em trânsito, tal qual a descrição na Georgica.
A abelha-rainha vive aproximadamente cinco anos, considerando a vida de uma abelha-rainha e o tempo de Virgilio a este acontecimento: quatrocentas abelhas-rainhavintre e nove mil e duzentas gerações de abelhas.

Coisas na vida.
Sempre foi assim, abelhas aventurando-se pelo espaço, campos e tantas outras plagas, percorrendo qualquer lugar em busca de forragem, de mantimentos, que é garantia para a continuidade da vida para a sua sociedade, que vive nas trevas, interior da colméia.
As abelhas de uma colméia são algo em torno de sessenta mil, a cada dia entre mil e mil e quinhentas novas abelhas, mas só a metade destas, aproximadamente trinta mil, é que podemos ver pelos campos e quintais, situação normal para a vida de uma colméia, principalmente na primavera e verão.
As abelhas são conhecidas como operárias, a saírem a camperiar, percorrendo o ambiente são também conhecidas por campeiras e forrageadeiras.
Quando encontram algum mantimento, levam a carga e informações de quantidade e localização para a colméia.
O retorno ao local é seguido por mais campeiras, elas não voam em grupos, sempre com intervalo de alguns poucos segundos entre uma e outra.
A forragem pode ser, néctar, pólen,resina vegetal, mel, cera, água, xarope ou calda de frutos maduros, ou de doces fabricados.

Enquanto a memória não falha.
Nação de virgens, república das trevas.
A colméia, nação de virgens, uma sociedade articulada que vive nas trevas, se organiza em coletivo na produção de uma riqueza, que um dia é transferida para uma nova colméia, uma nova geração, em troca de uma vida de carências, de um futuro incerto, de um pobre recomeço.

As abelhas e abelha-rainha que formam um enxame a produzir uma nova colméia, quando se separam da colméia, só tem o direito de levar consigo, mel no abdômen de suas obreiras, se não houver fartura, não haverá razão para enxamear, salvo por motivo de alguma doença que possa afetar o comportamento da colméia, uma anomalia.

Esta riqueza produzida pela colméia, abrigo, mel, cera, resulta do relacionamento natural do coletivo com uma parte significativa do universo vegetal, formada pelas plantas de flores angiospermas. A flor fornece o pólen e o néctar, em troca dos frutos, das sementes.

Riqueza maior cabe exclusivamente a natureza, num manifesto em favor da própria natureza, que está no viver e viver a renovação da vida para tantos seres, entre eles o próprio homem, além das abelhas e dos vegetais que diretamente a ela se elencam.

Esta atividade acontece imutavelmente há 100 milhões de anos.

Momento e eternidade
A colméia é uma cidade que nunca para, vive sempre no escuro, seja noite ou dia, tudo se contempla numa ordem que vai desde a postura do ovo, sua eclosão em larva e para pupa, até o despertar de uma nova abelha, nova mas adulta e tarefas sociais a praticar, assim até a sua morte como uma velha abelha, tendo a cada um dos momentos da sua vida, marcados por uma determinada função, tarefa

Para cada operária a dinâmica de assumir momento a momento uma função na comunidade.

Para a colméia o rodízio entre as abelhas marcados pela dinâmica entre seus momentos é um único momento a produzir a vida de todas as colméias.

Momentos
Entre as atribuições determinadas a serem desenvolvidas por uma abelha ao longo de sua vida está: ser faxineira, ama, aia, dama de honra, segurança, cereira, ventiladora, química, construtora, anfitriã de campeira, sentinela, campeira.

E o homem
A espécie humana, a que pertencemos, Homo Sapiens, registra-se a menos de duzentos mil anos de vida, na proporção de um ano de vida do homem, para quinhentos anos de vida da abelha; 1/500.  
Só que o relacionamento da vida humana com a natureza se qualifica pela degradação ambiental, numa progressão alarmante, a luz da sua própria consciência de que se é natureza, na plenitude do conhecimento de uma vida suicida, envolta na imoralidade de argumentos: interesse público; estabelecimento da ordem; legítima defesa.